domingo, 13 de junho de 2010

O Dia de Green


Na hora do almoço, eu já estava pensando que iria escrever sobre “o dia de Messi” e a estréia vitoriosa da Argentina. Tudo mudou com um despretensioso chute do americano Dempsey e com o frangaço do goleiro inglês Green...
O dia havia começado com a tranqüila vitória da Coréia do Sul sobre a Grécia. Bem organizados e mais experientes, os coreanos ainda tiveram a felicidade de sair na frente logo aos 6 minutos, em um lance de bola parada, que teoricamente seria a maior virtude dos gregos. A falta cobrada quase da marca do escanteio cruzou toda a pequena área e encontrou o zagueiro Jung-Soo livre para escorar com o pé e abrir o placar. O primeiro tempo foi de completo domínio da Coréia do Sul, que perdeu uma chance claríssima com Chu-Young, e teve dois erros de arbitragem que a impediram de ampliar – um pênalti não marcado e a marcação de uma falta inexistente quando Park roubou a bola de um defensor grego e iria ficar na cara do gol. O neozelandês Michael Hester foi, assim, responsável pela primeira arbitragem ruim da Copa, e não só pelos erros capitais.
A Coréia resolveria o jogo logo no início do segundo tempo, quando Park (aquele do Manchester United) roubou a bola dominada na canela pelo grego Vyntra e arrrancou em direção ao gol para fazer 2x0. Até os 20 do segundo, os coreanos continuaram dominando e pareciam caminhar para a goleada, mas acabaram relaxando um pouco e a Grécia, animada pelas entradas de Salpingidis e Kapetanos, tentou reagir, perdendo três boas chances, mas acabou mesmo sem fazer seu primeiro gol em Copas. Passo importante para que a Coréia do Sul avance às oitavas. Os gregos parecem destinados a tentar um pontinho, ou no mínimo um golzinho de honra no mundial.
Aí veio a estréia Argentina, de ótimo primeiro tempo, com um gol logo aos 6 minutos (Heinze, de cabeça) e mais quatro chances claríssimas desperdiçadas, duas delas por Higuain, que pode ser artilheiro no Real Madrid, mas destoa da parceria na seleção. Recebendo espaço para dominar e arrancar para o gol, Messi foi o nome não só do primeiro tempo, mas também do segundo, apesar da queda de produção de alguns de seus compatriotas. Como os argentinos, em um misto de cansaço e administração de resultado, passavam a oferecer menos perigo, a Nigéria se soltou a partir da segunda metade da etapa final, e teve chances para empatar, mas os hermanos conseguiram ficar com a bola no pé a partir dos 40 e garantir a primeira vitória.
Ouvi comentários divergentes sobre a vitória da Argentina, alguns elogiando a quantidade de chances criadas, outros dizendo que o brilho argentino foi exclusividade do melhor do mundo, e que o restante da equipe mostrou. Efetivamente, houve atuações abaixo da crítica, especialmente Higuain e Verón (errou muitos passes), mas a Argentina mostrou que tem time para brigar pelo título, mesmo que seja “somente Messi” até o final – não esqueçamos que já fomos campeões assim, montando um esquema para ser “só Romário” em 94...
Da Inglaterra, o que dizer? Mais uma vez, chegaram com status de favoritos. Mais uma vez, formaram “uma das melhores seleções de todos os tempos”, cheia de nomes consagrados. Mais uma vez, mostraram serem capazes de bons lampejos – o gol marcado logo aos 3 minutos, em rápida troca de passes, com Gerrard aparecendo por traz da zaga, foi um exemplo. Mais uma vez, parecem mostrar que vão ficar no “quase”. Não pelo empate, afinal levaram um gol fortuito quando dominavam o jogo, um chute rasteiro, sem força, quase da intermediária. Dempsey, depois de girar duas vezes em cima do capitão Gerrard, arriscou e contou com a colaboração imensa do goleiro. A cena que repetida ao longo de toda a Copa, e das retrospectivas que virão ao longo do anos: o chute, Green levando as mãos à bola, mas com o corpo de lado, a Jabulani, tão criticada, escapando, ele pulando para traz para tentar evitar a tragédia, o gol, a cara de velório. No The Sun que chamou-o de “calamity keeper” - mesma expressão, aliás, utilizada no Daily Mirror - há um ótimo (embora curto - apenas 3 fotos) slide show(http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/sport/football/worldcup2010/3012012/Robert-Green-has-vowed-to-bounce-back.html), . Ali, dá para ver claramente que a bola do mundial não teve culpa, foi um erro de fundamentos do arqueiro inglês.
A Inglaterra decepcionou, na verdade, pela incapacidade de buscar a vitória sobre um Estados Unidos bem organizado, mas apenas mediano. Criou apenas duas grandes chances no segundo tempo, com Heskey perdendo na cara do goleiro e Lampard desperdiçando um contrataque de quatro contra dois. Quando o tempo começou a ficar escasso, foi a mesma coisa de sempre: chama o Peter Crouch e mete bola na área...
Os ingleses poderão avançar até as quartas, em função dos cruzamentos, mas não estarão entre os reais candidatos ao título. Os americanos conseguiram resultado importante para irar à segunda fase, por onde devem parar, caso cheguem.
Por enquanto, o melhor futebol da Copa veio do Rio da Prata.

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