terça-feira, 31 de março de 2009

Dubai 2009

Mais uma bela festa nas arábias, com a 14ª edição da Dubai World Cup e mais cinco grandes prêmios que pretendem reunir a nata do turfe mundial. Este ano, não foi bem assim, pois os campos das seis provas saíram um pouco mais fracos que nos anos anteriores, especialmente o páreo principal, que não conseguiu atrair nenhuma estrela realmente de primeira linha na raia e distância (2000 metros – areia) preferida dos americanos. Pode-se dizer que não havia um grande astro nesta World Cup simplesmente porque este astro não existe nos Estados Unidos, pelo menos entre os cavalos de 4 anos e mais idade, já que os de 3 anos estão focados no Kentucky Derby, mas, de qualquer forma, pareceu ter sido a mais fraca versão do GP mais rico do mundo.
O festival começou com dobradinha do Sheik Maktoum na Godolphin Mile (1600 metros, prova de Grupo 2). Firme vitória de ponta a ponta do favorito Two Step Salsa, com seu parceiro Gayego atropelando no final para formar a dupla. Em terceiro, afastado, o chileno Don Renato, que pouco vinha mostrando em Dubai até então.
No UAE Derby, também de Grupo 2, nova dobradinha da Godolphin, mas desta vez com sabor amargo. Regal Ransom também triunfou de ponta a ponta, derrotando por meio corpo Desert Party, favoritão escolhido pelo jóquei oficial do sheik Lamfranco Dettori. O argentino Soy Libriano, de boa campanha em Maronãs, foi terceiro sem ameaçar. Mesmo fazendo ponta e dupla, o sheik deve ter saído decepcionado com a performance de Desert Party, de quem se esperava uma vitória arrasadora que lhe desse status de pretendente real ao Kentucky Derby. Perdendo em Dubai, ele pode nem sequer chegar a correr a principal prova da geração nos states.
Na Dubai Golden Shaheen, o páreo de velocidade, Big City Man mostrou valentia para resistir ao ataque final da favorita Indian Blessing, a melhor velocista fêmea dos Estados Unidos. Corrida como barbada por Edgar Prado, Indian Blessing dava a impressão que passaria por cima do ponteiro, mas acabou “batendo na trave”. Diabolical, da Godolphin, completou a trifeta.
A Dubai Duty Free foi o único dos páreos do festival que não consegui assistir. Foi mais uma corrida vencida de ponta a ponta, desta vez por Gladiatorus, conduzido por Ahmed Ajtebi, o primeiro jóquei nascido em Dubai a conseguir projeção no turfe mundial. O inglês Presvis, mesmo largando pela baliza 16, formou a dupla, com Alexandros, da Godolphin, na trifeta. Decepcionou a japonesa Vodka, que cansou ao tentar seguir o ganhador.
A Dubai Sheema Classic, em 2400 grama, sempre foi um reduto europeu. Em 2009, parecia que o irlandês Youmzain, vice-campeão do Arco do Triunfo, e o francês Doctor Dino, sobravam na turma. Antes do páreo, o Tinho Kessler (www.tkos.blogspot.com) me alertou para a corrida desfavorável que Youmzain teria, precisando atropelar em uma reta mais curta do que está acostumado, dirigido pelo pouco categorizado Richard Hills. Sabias palavras: Hills fez percurso péssimo, mantendo Youmzain em último colado à cerca, o que obviamente resultou em ficar sem passagem em boa parte da reta. Quando esta apareceu, o favorito conseguiu chegar a tempo de ficar apenas com o quarto lugar, a dois corpos dos três cavalos que decidiram o páreo no fotochart – venceu Eastern Anthem, outro irlandês, na segunda vitória seguida de Ajtebi. Purple Moon e Spanish Moon chegaram a seguir, agarrados no ganhador. Doctor Dino decepcionou por completo.
Na World Cup, os holofotes estavam voltados para Albertus Maximus, ganhador da Breeders Cup Dirt Mile, sob o qual pairava, no entanto, a dúvida em relação a sua capacidade de chegar bem aos 2000 metros. Falhando o favorito, surgiam o ídolo japonês (embora americano de nascimento) Casino Drive e o cavalo “da casa” My Indy como opções. Em carreira, entretanto, o que se viu foi bem diferente.
O americano Well Armed, terceiro na World Cup passada, mas que vinha correndo pouco na Califórnia, largou e acabou, vencendo por vários corpos, sem tomar conhecimento dos adversários. My Indy, após correr boa parte do percurso em segundo, perdeu as pernas na metade da reta. Albertus Maximus, que corria em quarto algo contrariado pelo seu jóquei Alan Garcia, morreu totalmente, chegando descolocado. Casino Drive não foi visto em nenhum momento. A dupla (e um prêmio de U$ 1,5 milhões) de coube então, surpreendentemente, ao brasileiro Glória de Campeão, que participou ativamente em todo o percurso, figurando sempre em terceiro junto aos paus. Na reta, enquanto os outros iam ficando pelo caminho, o brasileiro manteve o ritmo, sem ameaçar jamais o ganhador, mas também sem chance de perder o segundo lugar.
Ainda não consegui descobrir se Well Armed venceu pela maior diferença da história da Dubai World Cup. No vídeo abaixo, fica o desafio de tentar contar por quantos corpos ele ganhou.

sábado, 14 de março de 2009

O Latinoamericano é Brasileiro


Cidade Jardim viveu seu grande dia dos últimos anos, sediando a 25ª edição do Gran Premio Asociación Latinoamericana de Jockey Clubes e Hipódromos, com dotação recorde de 250 mil dólares – 156 mil ao proprietário do vencedor. Pena que boa parte dos visitantes tenha desistido de vir ao Brasil – de fora, tivemos os quatro representantes chilenos, um americano representando o Peru, e apenas um dos classificados argentinos, Life Of Victory, campeão do último Pellegrini, tido como o melhor deles. Defendendo as cores nacionais, seis animais, selecionados a custa de muita polêmica, como já falamos aqui.
Foi um belo espetáculo. Na partida, o americano/peruano Zeide Isaac foi para a ponta, imprimindo um ritmo forte e livrando cinco corpos para Quick Road, o mais velho dos nossos representantes. Quando alcançou a grande curva, Zeide Isaac viu a sua vantagem diminuir para dois corpos, com Quick Road aproximando-se com facilidade, trazendo junto Life Of Victory e Flymetothemoon, outro brasileiro, que avançava por dentro já balançado por Jorge Ricardo. Na altura dos 800 finais, Flymetothemoon tropeçou violentamente, derrubando Ricardinho e outros dois brasileiros que evoluíam do bloco intermediário, Quadriball e Negro da Gaita – ironia do destino, já que seus proprietários brigaram tanto para estar no Latino. Ao entrarem pela reta final, Quick Road e Life Of Victory davam impressão de vitória, com o brasileiro inicialmente dominando por dentro, mas sendo rapidamente superado pelo argentino. Quando o campeão do Pellegrini parecia aclamado o ganhador, surgiu em longa atropelada Hot Six, o ganhador da seletiva carioca, para vencer com firmeza por dois corpos. Em uma reação surpreendente, Zeide Isaac, que parecia “morto” ao ser dominado na metade da reta, voltou para cima de Life Of Victory, retomando a segunda posição. O argentino ainda perdeu o terceiro para Des Moines, o brasileiro menos cotado. Completou o placar premiado a chilena Raja Diabla, com Quick Road cansando e ficando em sexto.

Com Hot Six, o Brasil manteve sua invencibilidade em casa e premiou o Haras J. B. Barros com o tricampeonato da prova como criador – já tinha vencido dois Latinos com Much Better. Premiou também o Stud Estrela Energia, seu proprietário, um dos maiores investidores do combalido turfe brasileiro. O destino acabou sendo mais uma vez irônico, pois tanto se discutiu quais cavalos representariam melhor o Brasil, mas acabou vencendo justamente o ganhador da seletiva que foi corrida em condições normais. Ganhou aquele que estava em melhor forma no momento, e não os que tinham mais títulos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Os Ingleses, De Novo


A Champions League se desenha mais uma vez inglesa. Quatro dos oito finalistas da maior competição européia são da terra do Príncipe Charles, os mesmos Manchester United, Chelsea, Liverpool e Arsenal que chegaram às quartas de final no ano passado.
O Chelsea classificou-se na terça, empatando em 2x2 com a Juventus, em Turim. Com Gus Hiddink no lugar de Felipão, voltou a ter cara de time, mesmo ainda tendo alguns jogadores importantes em má fase – Drogba, pelo menos, voltou a fazer gols. Também na terça, o Liverpool atropelou o Real Madrid com um histórico 4x0. Os Reds vem mantendo a mesma base nos últimos anos, e brigarão pelo título se não perderem jogadores chave – Gerrard e Fernando Torres – por lesão.
Na quarta, o campeão Manchester bateu a Inter de Milão, que mais uma vez fica pelas oitavas. Foi um jogo curioso: a equipe inglesa entrou em campo com um esquema tático que poderia ser taxado até de 4-2-4, já que incluía Berbatov, Rooney, Cristiano Ronaldo e Giggs. Na prática, Sir Alex Ferguson tentou armar as famosas duas linhas de quatro, formando a segunda linha com os volantes Carrick e Scholes mais centralizados, Giggs aberto na esquerda e Ronaldo na direita. Não funcionou: apesar de sair ganhando logo aos 4 minutos (Vidic, de cabeça, aproveitando cobrança de escanteio), o Manchester saiu do primeiro tempo sob desconfiança da torcida, que já começava a “cornetear” discretamente ante o domínio da Inter. No segundo tempo, o Manchester acabou confirmando a vitória na qualidade individual dos seus craques, com Cristiano Ronaldo cabeceando cruzamento preciso de Rooney. O atual campeão não está fazendo grandes partidas, mas tem muita gente para decidir em lampejos individuais.
O último inglês a carimbar o passaporte foi o Arsenal, que perdeu para a Roma pelo mesmo 1x0 que havia feito no jogo de ida, avançando nos pênaltis. Passou “arranhando”, mas estava sem seu principal jogador, o espanhol Fábregas, e sem o homem de referência do ataque, o togolês Adebayor. É o menos cotado entre os britânicos.
Adversários? O Barcelona parece ser o maior deles. Despachou com goleada – 5x2 – o Lyon, que continua ganhando tudo na França e nada fora dela. O Bayern de Munique, aos poucos retomando seu espaço como clube de ponta na Europa, também goleou: com os 7x1 sobre o Sporting, fechou a série em 12x1, o maior placar combinado da história do mata-mata da Champions. Não dá para se impressionar muito, os portugueses foram pífios, tanto que quase apanharam da própria torcida na volta para casa. Acho que Bayern pode até incomodar, mas não disputará título. Os outros dois, Villareal e Porto, pouco terão a fazer daqui para frente.Para quem quiser ver os melhores momentos das oitavas, acesse o http://premiergoals.blogspot.com/. Estarão ali o golaço do Messi, mas também o pênalti ridículo cometido pelo Belletti, a presepada da zaga do Sporting no segundo gol do Bayern, o golaço do Anderson Polga (contra, infelizmente) e o pior pênalti já cobrado na história da Champions, o de Vucinic, do Roma. Vale a pena dar uma olhada.

domingo, 8 de março de 2009

Santa Anita 2009

Santa Anita, talvez o mais bonito hipódromo americano, viveu ontem a sua tarde de glória, com mais uma edição do tradicionalíssimo Santa Anita Handicap, a legendária carreira levada às telas de cinema no filme Alma de Herói. No rol dos seus ganhadores, além do Seabiscuit do filme (em 1940), craques como Tiznow, Spetacular Bid e Affirmed (há 30 anos, em recorde, 118´6, que dura até hoje), além do brasileiro Siphon, que fez uma dobradinha com o também brasileiro Sandpit em 1997.
Como aperitivo, tivemos o Santa Anita Oaks, cercado de grande expectativa pela presença da potranca líder de sua geração, a tordilha Stardom Bound. Mais do que vencer, ela tinha que mostrar classe suficiente para enfrentar os machos no Kentucky Derby, como tem sido aventado. A tordilha venceu, mas a mim não convenceu. Foi, é claro, uma demonstração de superioridade sobre as fêmeas, pois seu jóquei Mike Smith fez a curva final totalmente “quadrada” e teve dificuldades para alinhar a tordilha durante a reta. Mesmo assim, ela livrou focinho em um final duríssimo com outras três competidoras. Para enfrentar os machos, no entanto, ela vai precisar mais. Ontem, corria último a pelo menos 10 corpos das ponteiras, que moviam train apenas razoável – as parciais foram de 23´8, 47´5 e 72´1. Para pretender alguma coisa no Derby, vai precisar mostrar que consegue acompanhar ritmos mais vivos. Meu palpite: ela estará, em maio, no Kentucky Oaks, e não do Derby.
Na carreira principal, o campo equilibrado prometia emoção. A distribuição de pesos do Handicap castigava o brasileiro Einstein, ganhador de grupo 1 na grama, escalado para ser o top weight da prova. Os ingleses Zambesi Sun e Champs Elysees, o americano Colonel John (que acabou sendo retirado) e o chileno Matto Mondo pareciam ser seus principais adversários.
Na carreira, Matto Mondo foi para a ponta, mas imprimindo um ritmo menos forte do que o esperado, tendo Cowboy Cal ao seu lado e Einstein na espreita em terceiro. Na virada da reta, o brasileiro dominou a situação e eu passei a olhar para trás, pois só uma atropelada muito violenta derrotaria o brasileiro. Champs Elysees veio forte, mas não a tempo de alcançar Einstein, que ainda ganhou por um corpo. Matto Mondo foi o terceiro, a focinho do segundo colocado, e Momba, que também atropelava forte no final, fechou a quadrifeta.
Foi uma grande vitória para o turfe brasileiro – Einstein é agora ganhador de grupo na grama, areia e pista sintética. Merece parabéns sua treinadora Helen Pitts, por manter Einstein competitivo na esfera máxima aos 7 anos, fato raro no turfe americano. Parabéns também a seus proprietários, que traçaram uma campanha que elevasse o valor do brasileiro como futuro reprodutor, e atingiram os seus objetivos. Principalmente por ser filho de um ganhador do Kentucky Derby (Spend A Buck), Einstein pode tornar-se agora o cavalo brasileiro que mais terá oportunidades na reprodução na terra do Tio Sam.

sábado, 7 de março de 2009

Histórias do Turfe


A Revista Turf Brasil, em função da vitória de Engaging (foto) no GP Estado do Rio de Janeiro, primeira prova da tríplice coroa carioca, ocorrida na semana passada, publicou um breve relato sobre Arambaré, pai do ganhador, e Edemilson Antonio de Souza, titular do Haras Maluga, criador do ganhador. Como já ouvi a história da boca do próprio Edemilson, posso conta-la com mais detalhes.
Arambaré estreou no Cristal confirmando a fama de craque, vencendo com facilidade uma seletiva da antiga Copa ANPC de Potros, no tempo – 1998 - em que esta prova reunia as melhores promessas das novas gerações de potros. Levado ao São Paulo, fracassou na final da mesma, mas após duas vitórias comuns, foi à Gávea ganhar o GP ABCCC, prova de Grupo 1 que consagra o campeão da geração de dois anos carioca. De volta a Cidade Jardim, ganhou, em final eletrizante e por focinho, o GP Ipiranga, primeira prova da tríplice coroa paulista, estabelecendo-se como o líder incontestável da sua geração.
Após o Ipiranga, Edemilson recebeu uma proposta irrecusável: 400 mil dólares pelo cavalo, que iria seguir campanha nos Estados Unidos. “Pensei comigo mesmo: se estão me oferecendo 400 mil, é porque o cavalo vai ganhar em prêmios muito mais do que isso. Então, ao invés de vender, vou primeiro ser tríplice coroado aqui, e eu mesmo levo o Arambaré para os Estados Unidos e ganho ainda mais”, me contou o próprio Edemilson, há quatro anos. O problema é que Arambaré mancou na sua atuação seguinte, o Derby Paulista, perdendo a coroa e tendo que amargar oito meses de recuperação. No retorno, quatro atuações e apenas um bom segundo lugar no GP Presidente da República (Grupo 1) na Gávea, perdendo apenas para Redattore. Ao invés de embolsar os dólares, Edemilson ainda teve que gastar “para fazer um haras para o cavalo”, nas palavras do próprio.
O gasto se revelou, no fim das contas, um belo investimento. Arambaré, que já vinha ganhando fama de reprodutor útil, com 69% dos produtos nascidos chegando a correr, e 88% dos produtos corridos tornando-se ganhadores, passa a ter seu primeiro produto ganhador de Grupo 1 – Ecoute Moi, da mesma geração, já tinha vitória em Grupo 2. Cabe, é claro, a ressalva de que os números de Arambaré são favorecidos porque a maioria dos seus filhos inicia campanha no Cristal, onde é mais fácil ganhar. Mas para o mercado, o que vale é o marketing de um reprodutor ganhador de grupo 1, produtor de grupo 1, e que gera sempre animais ganhadores. A partir de agora, Edemilson irá colher nos leilões do Maluga os frutos da sua aposta.